quarta-feira, 20 de junho de 2012

SOPA DE PEDRA

VALE A PENA LER:


O caldo de pedra
Um frade andava ao peditório; chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram dar nada. O frade estava a cair com fome, e disse:
– Vou ver se faço um caldinho de pedra. E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela para ver se era boa para fazer um caldo. A gente da casa pôs-se a rir do frade, e daquela lembrança. Diz o frade:
– Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
– Sempre queremos ver isso.
Foi o que o frade quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, disse:
– Se me emprestassem um pucarinho?
Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
– Agora se me deixassem estar a panelinha aí ao pé das brasas.
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
– Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava de primor.
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via. Diz o frade, provando o caldo:
– Está um bocadinho insosso; bem precisa de uma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou e disse:
– Agora é que com uns olhinhos de couve ficava que os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as e ripou-as com os dedos deitando as folhas na panela.
Quando os olhos já estavam aferventados, disse o frade:
– Ai, um naquinho de chouriço é que lhe dava uma graça...
Trouxeram-lhe um pedaço de chouriço; ele botou-o à panela, e enquanto se cozia, tirou do alforje pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava que era um regalo. Comeu e lambeu o beiço; depois de despejada a panela ficou a pedra no fundo; a gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
– Oh, Senhor Frade, então a pedra?
Respondeu o frade:
– A pedra, lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
E assim comeu onde não lhe queriam dar nada. 

Extraído do livro Contos Tradicionais do Povo Português – I, de Teófilo Braga (1843-1924). © Edições Vercial, Braga, 2010-2012. 

Dica do chef “A sopa de pedra é mais comum no Ribatejo, em Portugal. É um prato bastante nutritivo, com ingredientes bem simples. A dica para o preparo é fazer um cozimento lento, que preserva mais os aromas e apura os sabores.” Hugo Nascimento, chef do Tasca da Esquina

RECEITA


Ingredientes 

600 g de feijão-vermelho cozido (reserve a água do cozimento); 
1 orelha de porco fresca; 
500 g de costelinha de porco fresca; 
1 farinheira (embutido português feito com farinha de trigo e banha de porco, pode ser encontrado em alguns empórios); 
1 chouriço de carne; 
1 chouriço de sangue; 
300 g de toucinho; 
350 g de cebola em cubos; 
5 dentes de alho fatiado em lâminas; 
300 g de batatas cortadas em quatro; 
1 maço de coentro; 
1 folha de louro; 
100 ml de azeite extravirgem; 
colorau a gosto; 
pimenta-do-reino a gosto; 
sal a gosto. 

Modo de fazer 

1 Cozinhe a costelinha, a orelha de porco e o toucinho em água, sal e louro, respeitando seus respectivos tempos de cozimento. Uma dica é espetar um palito de dente nas carnes: quando ele penetrar com facilidade, é sinal de que a carne está cozida. 
Em seguida, corte as carnes e reserve. 
2 Cozinhe a farinheira, o chouriço de carne e o chouriço de sangue em água, também respeitando o tempo de cozimento dos ingredientes. O chouriço de carne leva cerca de 30 minutos e o de sangue, 2 minutos. A farinheira cozinha em cerca de 8 minutos. Na dúvida, faça o teste do palito. Depois de cozidos, corte em rodelas e reserve.
3 Cozinhe as batatas na água reservada do cozimento do feijão. Enquanto elas cozinham, adicione o feijão, a cebola em cubos e o alho laminado. Acerte os temperos (sal, pimenta, colorau, coentro, azeite). Deixe apurar e, por fim, junte as carnes e os embutidos cortados. 


Receita de Vitor Sobral, Chef-Fundador do Tasca da Esquina

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